terça-feira, 13 de julho de 2010

Meu estágio

Completando a postagem anterior, quero acrescentar que, como metodologia, utilizei no meu estágio, o Estudo do Meio:

Através do Estudo do Meio, o professor possibilita aos alunos uma aprendizagem nova, diferente e de uma investigação do meio no qual estão inseridos. Além disso, os alunos podem expressar livremente suas ideias e divulgar suas experiências. O Estudo do Meio parte, portanto, da observação, investigação e análise do que acontece no ligar onde estão inseridos, dos fatos e das situações que permitem uma melhor compreensão do mundo à sua volta.
A investigação será o processo natural de aprendizagem, na medida em que estiver relacionada ao ambiente ou ao interesse da criança; um ambiente que lhe é familiar e do qual tem uma experiência imediata. Desse contato com o meio, de seu interesse, surgirá a motivação para o estudo dos múltiplos problemas que a realidade coloca (ZABALA, 2002, p. 206).
Ao aplicar o estágio, partindo do princípio que os alunos têm um grande interesse no que acontece do lado de fora da sala de aula, procurei investigar, juntamente com todos eles, as relações da comunidade com a escola, com o intuito de estudar os diferentes modos de vida, os diferentes contextos e grupos sociais que se formam próximo à escola. Além disso, procurei proporcionar às crianças aprendizagens significativas que partissem das experiências vividas e de seu conhecimento prévio, o que, a meu ver, lhes permitiu compreender, explicar e atuar sobre o meio de modo consciente e criativo.

Para utilizar a metodologia do Estudo do Meio, segui, basicamente a seguinte sequência de ensino/aprendizagem, proposta por Zabala (2002):

1. Motivação: situar os alunos em experiências próximas de suas realidades, promovendo o interesse e motivação pelas questões que tais situações colocam.
2. Explicitação das perguntas ou problemas: realizar um debate, onde certamente surgirão várias perguntas que serão necessárias de se responder. Serão definidas as perguntas da investigação;
3. Respostas intuitivas ou hipóteses: Como os alunos já possuem um conhecimento prévio, pretende-se que eles possam promover as formas, os meios ou instrumentos que utilizarão para sua investigação.
4. Determinação dos instrumentos para busca de informação: Serão escolhidas as formas de investigação – visitas, entrevistas, experimentações, leituras de livros, jornais locais etc.
5. Projeto das fontes de informação e planejamento da busca: Os alunos elaborarão as formas como serão levantadas as informações, onde será sugerida a aula-passeio , onde os objetivos deverão estar claros e definidos, com um planejamento ajustado à turma.
6. Coleta de dados: Durante a aula-passeio, os alunos coletarão informações e também poderão utilizar outros meios de levantamento de dados, como entrevistas com os pais, amigos etc.
7. Seleção e classificação dos dados: Os dados mais relevantes serão analisados, classificados e registrados.
8. Conclusões: Após analisar os dados, os alunos responderão às suas próprias perguntas, onde poderão confirmar ou não suas hipóteses, além de ampliar seu campo de conhecimento.
9. Generalização: Será a aplicação das conclusões, para que o processo de aprendizagem não se torne vazio e sem significado.
10. Expressão e comunicação: Será a exposição dos resultados de investigação aos colegas de escola, professores, pais e comunidade, através dos registros feitos pelos alunos.

Todo o processo foi trabalhado em grupo, a fim de estabelecer as relações de amizade, compartilhando informações e conhecimentos. Ao utilizar esta metodologia, foram levados em consideração alguns aspectos, tais como: a estimulação da oralidade e a curiosidade natural das crianças e a descoberta de soluções através de leituras e entrevistas, refletindo sobre o que já sabiam e o que queriam investigar.

Os conteúdos foram trabalhados de forma integrada, passando por elementos de cada disciplina, onde procurei desenvolvê-los de acordo modo atrativo e com significado, para que eu pudesse aprender junto com as crianças. Segundo Krausz (2008, p.25), “no trabalho interdisciplinar uma área enriquece o conhecimento sobre a outra e o resultado é a construção de saber mais complexo e menos fragmentado, que buscará trazer mais sentido para o estudante”. A interdisciplinaridade permite que o aluno aprenda de uma forma mais integrada e não fragmentada, onde a vontade de aprender. Zabala (2002), ainda reforça que os conceitos de interdisciplinaridade explicam que diferentes matérias podem relacionar-se para melhorar o conhecimento.

Uma das formas de avaliação foi o Portfólio, pois este é um instrumento muito interessante, que serve para vincular a avaliação do trabalho pedagógico em que o aluno participa de forma ativa e decisiva, de modo que ele formule suas próprias idéias e faça reflexões.
A construção do portfólio torna-se uma atividade agradável para o aluno. Em lugar de ter suas produções isoladas umas das outras e apresentadas ao professor quando ele assim o determina, para serem corridas e devolvidas ou não quando ele quiser, o aluno observa a coleção organizada de suas atividades, de modo que possa perceber a trajetória, assim como suas necessidades iniciais e como as satisfez ao longo período de trabalho (VILLAS BOAS, 2004, p. 42).
Portanto, o Portfólio serviu de instrumento para anotar as reflexões, além de ter servido como meio de registro da proposta de investigação que fizemos. Acredito que o Portfólio contribuiu para uma melhor avaliação do que foi aprendido.

Shores e Grace (2001) apontam que o Portfólio permite que as crianças pensem em suas ideias e reflitam sobre o seu trabalho, realizando uma conexão entre tópicos marcantes e suas experiências – que são a base da atividade intelectual e coletiva.

Estágio nos Anos Iniciais


Neste 1º semestre de 2010, realizei meu estágio nas séries iniciais. No início foram muitas as angústias, os medos, os receios. Estagiar nas séries iniciais era um dos momentos pelos quais eu mais ansiava nesta minha jornada acadêmica. Eu nunca estive a frente de uma turma antes, pois não cursei o ensino normal - magistério e, portanto, minha experiência era quase nula. No ano passado (2009/1) fiz estágio na Educação Infantil e, embora eu tenha gostado, esta não foi a área que mais me chamou atenção. Sinto que serei muito mais útil nas séries iniciais e não vejo a hora de eu ter a minha própria turma. Como eu dizia, este momento do estágio foi muito especial para mim. Adorava estar com as crianças e aprender junto com elas. Em alguns momentos eu achava que não estava desenvolvendo um bom trabalho e que não conseguiria desenvolver minha proposta de estágio. Dar conta de planejamentos, relatório...

Mas quando eu chegava à sala de aula, tudo mudava. Não tinha mais vontade de sair dali. Foram 25 dias de muita correria, cansaço, mas também de realização. Tive bastante ajuda da professora titular e recebi muitas idéias da minha professora orientadora do estágio. E, quando por um momento eu pensei que não estava dando conta do recado, recebi o carinho da turma.
Portanto, penso que tudo valeu a pena e ser professora é um sonho que estou prestes a realizar. Desistir de ser professora? Nunca. Quero estar ao lado dos pequenos. Quero ensinar e, principalmente, aprender com ele!

Aline

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Reinvenção da Infância

Procura-se e fala-se tanto sobre algo chamado “Infância”, que ninguém sabe como, onde e porque começou ou onde ela está. Infância, que pelo conceito que se tem não se sabe onde ela está ou onde vai parar. Imagina-se que a infância seja uma fase da vida, onde tudo é perfeito, o mundo é cor-de-rosa, não há problemas, erros ou tristezas. Tudo é perfeito e bonito. Mas a realidade não é bem assim. Pode ser para alguns poucos, mas para a grande maioria, a realidade é muito diferente da ideologia que se tem. Mas então, o que se fez dessa “infância” idealizada por todos? Por que há crianças que no “auge” da sua infância roubam, matam, usam drogas e, inclusive, prostituem-se? O que aconteceu com essa infância?

Fatos como os de crianças que matam, roubam e abusam sexualmente de outras crianças estão tornando-se cada vez mais comuns nos dias de hoje. Mas ninguém está acostumado com isso. E há pouquíssimas pessoas que procuram um jeito de ajudar essas crianças.
O artigo de Monteiro (O Seqüestro da Infância, Zero Hora, 12 de abril de 2000), relata a história de três crianças que obrigaram outras duas a comer fezes, abusaram-nas sexualmente e depois as mataram a pauladas, sem nenhum motivo (pelos menos é o que disseram aos jornalistas). O que aconteceu com a infância dessas crianças? Por que agiram desse modo tão brutal com outras crianças e falam com tanta naturalidade sobre o assunto? Há quem diga que a culpa de tamanha violência é a sociedade. E quem é a sociedade? Como se pode puni-la por permitir que aconteçam fatos como esse? Ah, claro! Trancafiem a sociedade atrás das grades como se faz com os bandidos; afinal a culpada é ela mesma! Tudo o que acontece é por culpa da sociedade. É muito fácil buscar culpados abstratos que não se pode punir. É preciso entender que a sociedade são todas as pessoas. Todos fazem parte da sociedade. Não é um sujeito apenas, mas todos. Esse é um fato a ser pensado e analisado. Quem sabe assim, a tal “sociedade” – que somos todos nós – perceba que talvez a culpa por essas crianças agir de modo tão violento seja dela (ou melhor, nossa).
Ainda em seu texto, Monteiro fala que o ponto em comum entre os personagens da violência “é a falta de uma família e a opção pela rua, a falta de educação e a opção pela vadiagem”. Entende-se por essa afirmação que as crianças estão optando por viver desse modo. Talvez por ser mais simples, sem regras, sem ter que dever obediência a alguém, por puro prazer. Mas pode-se entender, também, que elas acabam sendo subjetivadas a essa maneira de viver, pois refletem o que vêem, e agem de acordo com o que acham certo, ou ainda: são obrigadas a isso. Já que a “tal sociedade” as coloca nesse status de marginais delinqüentes e assassinos, sem buscar a solução para essa infância perdida.
Quando vemos ou ouvimos notícias de crianças matando ou roubando, ficamos chocados diante de tamanha selvageria e violência. E é nesse dado momento que devemos perguntar: “o que fazemos da infância”? A resposta é simples: nada. Só criamos discursos e lembranças.
De nada adianta criar discursos como “lugar de criança é na escola” ou “ser criança é ser inocente”, pois eles apenas azeitam a maquinaria de infância, que é produzida de acordo com o que lhes convém, mas não são levados a sério. As crianças perdem a sua “infância” idealizada pela “tal sociedade” e aprendem desde pequenos a sobreviver neste mundo. E é assim que sempre aconteceu. Não é de hoje que as crianças agem como adultos. Elas provavelmente sempre agiram, mas a partir desse dispositivo de infantilidade é que se passou ver a infância. E ela está apenas sendo percebida agora. Ou seja, as crianças agem como adultos porque sua infância (?) está perdida, roubada. Essa infância tão discutida e comentada está sendo reinventada pelas próprias crianças. É seu meio de se ajustar às suas necessidades de sobrevivência, pois, “só o mais forte sobrevive nesta selva de pedra”. É a sua visão de mundo e elas apenas refletem o que vêem.
Então se chega à conclusão de que praticamente não se fez nada acerca da infância. Apenas criaram-se discursos, lembranças e subjetividade. Discursos para promover a idéia de infância. Lembranças para ter saudade da “aurora da vida” e subjetividade para condicioná-las a agir como se quer. Pois a infância está subjetivada à vontade dos adultos e da própria infância. E o que foi feito para essa infância? Escolas? Instituições? Clubes? Conselhos Tutelares? Família? Como tudo isso funciona? As crianças não querem saber como funciona. Querem ver funcionar. Afinal, é da sua dita “infância” que está sendo tratado e falado. E elas, aos poucos, vão reinventando sua infância, refletindo tudo o que veem, seja bom ou ruim. Essas crianças citadas por Monteiro, com certeza antes de cometerem tais crimes, presenciaram algo parecido ou foram vítimas dessa violência que está aí fora, e só estão se protegendo.
Tudo faz parte da sujeição a que estamos submetidos (é uma idéia redundante, mas real). Mas não se pode generalizar, dizendo que todas as crianças serão más porque presenciaram atos de violência. Haverá aquelas que tentarão defender-se desse mundo de outra maneira, reinventando sua infância.

Aline de Paula Neves
Acadêmica do Curso de Pedagogia - FACOS